Meu namorado era um absurdo. E eu gastei tantos minutos quanto cabe num século para começar a entender por que a vida havia colocado no meu percurso algo de tão equivocado.
Eu poderia namorar um homem loiro. Isto era aceitável.
Eu poderia namorar um homem baixo. Isto era admissível.
Eu até poderia conviver com um homem que usasse blazer comprado nos anos 80. O amor não olha isso.
Mas eu não suportava a voz do namorado que me cabia. E isto eu não aceitava.
E, além da voz irritante, ele era ainda loiro, baixo e usava blazer anos 80.
Toda vez que ele dizia algo, eu balançava as mãos num ímpeto de tapar os ouvidos. Só não realizava o ato por etiqueta social ("- Vejam: ela não escuta o namorado!", diriam).
O pior é que eu nunca o havia aceitado como namorado. Mas ele era o meu namorado. Todos sabiam, só eu não entendia como aquilo ficou assim tão acertado e definitivo.
Já que não tinha jeito, comecei a gostar dele. Primeiro porque lembrei que ele vendia pão, era dono de uma padaria e sempre me propunha comer pães quentes. Gostei um pouco mais porque ele me mostrou as passagens de uma grande viagem que faríamos. E comecei a pensar em efetivar o namoro que todos já sabiam existente quando um amigo dele, horroroso ("Por que meu namorado tem amigos tão horrorosos?", pensava), me cumprimentou com o maior respeito do mundo. E pensei então, quase conclusiva: o que é uma voz irritante em vista de tanto respeito e pão quente? Seria melhor viajarmos.
Com medo, porque não se fica sem ele, vi que um dos caminhos era dizer sim. Em outras palavras, abandonar o semblante desconfiado quando ele me chamasse de "meu amor". Assumir uma postura inequívoca perante ao que parecia tão equivocado: você, homem loiro de voz irritante, é sim meu namorado. Nos amaremos com farinha e calor de forno, porque, sim, eu quero.
Achei, no final das contas, que assim é o amor: essa voz insistentemente aguda que não nos deixa parar onde já nos julgamos tão bons.
Eu poderia namorar um homem loiro. Isto era aceitável.
Eu poderia namorar um homem baixo. Isto era admissível.
Eu até poderia conviver com um homem que usasse blazer comprado nos anos 80. O amor não olha isso.
Mas eu não suportava a voz do namorado que me cabia. E isto eu não aceitava.
E, além da voz irritante, ele era ainda loiro, baixo e usava blazer anos 80.
Toda vez que ele dizia algo, eu balançava as mãos num ímpeto de tapar os ouvidos. Só não realizava o ato por etiqueta social ("- Vejam: ela não escuta o namorado!", diriam).
O pior é que eu nunca o havia aceitado como namorado. Mas ele era o meu namorado. Todos sabiam, só eu não entendia como aquilo ficou assim tão acertado e definitivo.
Já que não tinha jeito, comecei a gostar dele. Primeiro porque lembrei que ele vendia pão, era dono de uma padaria e sempre me propunha comer pães quentes. Gostei um pouco mais porque ele me mostrou as passagens de uma grande viagem que faríamos. E comecei a pensar em efetivar o namoro que todos já sabiam existente quando um amigo dele, horroroso ("Por que meu namorado tem amigos tão horrorosos?", pensava), me cumprimentou com o maior respeito do mundo. E pensei então, quase conclusiva: o que é uma voz irritante em vista de tanto respeito e pão quente? Seria melhor viajarmos.
Com medo, porque não se fica sem ele, vi que um dos caminhos era dizer sim. Em outras palavras, abandonar o semblante desconfiado quando ele me chamasse de "meu amor". Assumir uma postura inequívoca perante ao que parecia tão equivocado: você, homem loiro de voz irritante, é sim meu namorado. Nos amaremos com farinha e calor de forno, porque, sim, eu quero.
Achei, no final das contas, que assim é o amor: essa voz insistentemente aguda que não nos deixa parar onde já nos julgamos tão bons.
Extraordinário Incrível Sensacional
ResponderExcluirum beijo saudoso