13 de nov. de 2011

para seu bem

Naqueles dias, senhorita rita seria capaz de fazer uma enorme guerra para instaurar o amor. Enfiaria o amor goela baixo, tal qual uma mãe faz com o filho ao lhe dar um remédio intolerável: - é para o seu bem.
Então ela escovou os dentes que estavam bem amarelos de uma semana - porque isso já era para seu próprio bem.
Quanto ao amor, saiu pelo dia.
Senhorita rita saiu para enfiar amor no mundo, tava sobrando nela.

Viu uma foto de um homem mal e enfiou amor nela, ou seja, picou a foto em mil pedacinhos e a jogou numa solução cuja base era feita de saliva de sua boca agora limpa, mais mel, mais pétalas de rosa, porque ela sempre ouvira falar que é assim que se faz simpatia, ainda mais de amor.

Depois viu um mendigo e lhe jogou amor num lenço. E mais: uma empada de palmito dentro do lenço porque ele sentia muita fome - o que é antes de amor.

Depois viu Don Juan, e lhe mostrou um gato adulto lambendo outro gato adulto, e disse; eis o amor.

A um casal com filhos e domingo no shopping, ela mostrou um paraquedas.
A um homem de bigodes, ela deu um vestido de fundo vermelho e flores pretas, e grandes.
A uma abelha, ela deu uma criança de pele macia para picar.
À criança, ela deu um colo de mãe.
À mãe, 87 minutos de silêncio puro
- e ela amou.

Um homem de camiseta azul lhe agradou muitíssimo, mas ele não precisava de nada... Pelo que ela sentiu.

Depois, por pura maldade, mostrou um túmulo sem flores a um casal de velhinhos apaixonados.

Tudo isso ela fez para si, não pelos outros.
E assim foi, andando por aí, esvaziando-se de amor para suportar a vida.