5 de jul. de 2010

casal vinte

Ele chegou manso, assim do seu jeito de sempre chegar, e não propôs que dançassem uma valsa. Ao contrário disso, disse que nunca, em nenhuma hipótese, iria amá-la. Rita sorriu e concordou:
- É melhor que seja assim.
Ela soube naquele momento que seriam, então, felizes. E disse:
- Vou preparar minha famosa sopa de aspargos.
A sopa de aspargos era uma das especialidades de Rita, ela comprava aspargos frescos e os misturava com um pacotinho de sopa Knorr. Ficava delicioso. É importante estar atento e observar que, ao anunciar a sopa, Rita o fez com o famoso tom hollywood que sabia dar à voz - outra especialidade sua. E anunciar e trazer a sopa, justamente depois da promessa feita por seu homem, de que nunca a amaria, isso deu o tom exato desta cena. Espero que vejam bem quem são os dois protagonistas dessa história: seres humanos irremediavelmente felizes. Felizes daquela felicidade que se vê nos supermercados: o baile dos carrinhos de compra, as embalagens vermelhas de danoninho, crianças loirinhas lindas e loucas com o novo biscoito do Sherek, a viagem ao pólo norte na seção dos congelados. Felicidade sublime, variada, em cada corredor um mundo, uma possibilidade de trombar com o inesperado, de saborear uma nova receita de enlatado.
- Melhor do que isso, só mesmo nunca ser amada - pensou Rita.
- E não amar - eu ressaltaria.
Os dois experimentaram a sopa, que foi elogiadíssima por ele. Como ele sentia frio, Rita o abraçou forte e maternal. Como ela sentia calores, ele fez assim um ventinho no seu rosto e por dentro de sua blusa. Nada podia ser mais confortável do que aquela casa de plástico onde moravam. Balas de framboesa, bombons de licor.
- Ah, esse doce sabor de ilusão.
Um brinde:
- Que a gente não acorde nunca.
E assim foi até o fim dos tempos.
"Amor é o que acontece entre um homem e uma mulher que não se conhecem muito bem." (Sumerset Mougham)

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