29 de nov. de 2009

panelinha

sim
eu tenho um grupo
todos neste mundo
se ajuntam
por que eu não?

eu também quis um
por direito

por muito tempo
achei-me out
sem bando
temi a própria estranheza:
que humano seria eu,
afinal, qual a minha
gangue, trupe, filial?

aí eu soube
que sim
eu tenho um clube
que não é raro nem exclusivo
(você também pode entrar
qualquer um pode mesmo)

é um grupo sem sede
(se não considerarmos a alma)
sem doutrina
(esqueçamos a póíesis)
sem visual
(apesar da tendência aos farrapos)

não é grupo grande
mas ocupamos muitos becos
mundo afora

fazemos reuniões noturnas
(na hora perigosa e exata
em que os ares do mundo
fervem em ondas de pensamento
mesma noite sem fuso-horários)

trata-se do grupo
(você o conhece)
dos que não se agrupam

andam sós
seus livros e piolhos

andam sós
e se encontram no silêncio

andam sós por rejeição
(não recusam quase nada
- pois amam o mundo -
são mais é rejeitados
- cheiram mal)

veja
não somos tão poucos:
agora mesmo
ouço o "oi" de um amigo
que veio balançar o pensamento
para meus lados
(ele não disse nada
mas o ar vibrou diferente)

estamos sempre juntos,
ou seja, sozinhos,
nas casas ou esquinas

é fácil estar no grupo
porque
é fácil estar sozinho

digo
sozinho mesmo acompanhado

digo
não é nada fácil

já tentei sair do clube

tentei cortar o vínculo
mas eles não me deixam
me puxam em silêncio

no fim (que me resta fazer?)
aceito
este triste pertencimento ao nada

2 comentários:

Well... vejamos... eu poderia dizer que...
Fiquem à vontade!