10 de nov. de 2009

isto me enfrangalha


ciropédia ou a educação do príncipe


You find my words dark? Darkness is in our souls, do you not think? (James Joyce)


1
A Educação do Príncipe em Agedor começa por um cálculo ao coração. Jogam-se os dados, puericultura do acaso e se procura aquela vértebra cervical de formato de estrela ou as filacteras enroladas no antrebraço direito: sinal certo do amor.

Em Agedor o Príncipe é um operário do azul: de suas mãos edifica - infância - as galas do cristal e doura o andaime das colméias: paz de câmaras ardentes.

O Preceptor - Meisterludi - dá o tema: rigor! As matemáticas: cáries de uma série gelada. Linguamortas: oblivion sangrando a raiz dos árias: ars. Linguavivas: amor.

O Príncipe, desde criança, é um aluno do instinto. Saúda as antenas dos insetos. Ave! às papilas papoulas e à clorifila - salve! tornassol das espécies sensíveis.

[...]

Ele orienta as abelhas. Ele irisa as libélulas. Ele entra o palácio dos corais e suspende os candelabros.

À hora dos deméritos o Mestre diz: Rigor!

Infância do Príncipe: água de que se fartam infinitas crianças.

(Haroldo de Campos, 1951)

e tem mais assim:

"O Príncipe aprende a equitação do verbo. As palavras ódio e amor nada significam em Agedor - pois significam tudo."

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