19 de fev. de 2010

no ponto


Certo. Linho, veludo, e muito branco por entre o verde.

Afora o branco: muito silêncio. Silêncio com mãos apertadas. Silêncio compassado, pés nas pedras. Silêncio com olhos na terra, silêncio com olhos nas árvores. Silêncio de não saber o que dizer: onde devem ir dois amantes além dos lugares óbvios? Silêncio. o sim. Isso preocupava bastante Pele Branca, ela havia enviado uma carta de amor cuja primeira palavra era sim. E não outra coisa. O que fazer com esse sim impertinente e ousado? Silêncio...
Foram ao parque. A moça amante pediu um algodão doce e sorriu ao ver as crianças brincarem, era ingênua – (mas nem tanto, pois sabia que naquela altitude podia ser mesmo nuvem o tal algodão). O amante entendia os recados, decodificou as borboletas, analisou os arrepios, pesquisou encaixes de mãos, farejou cheiros profundos na pele da moça, aproximou-se ávido, recuou com pesar. Por ser homem, contava com a ajuda de sua natureza para chamar tamanduás e outros adornos para o entorno do casal.

Andaram, assistiram ao mundo, tocaram-se de leve (com saudade da profundidade), deixaram marcas invisíveis junto aos nomes escritos nos troncos e pedras, pegadas silenciosas no chão irregular.

Comeram carne vermelha e quase mancharam as roupas brancas. – Não haveria problema. Nada pode ser tão branco assim mesmo... nada pode ser de tal brancura.

Sobraram da caminhada no parque muitas lembranças, imagens fotografadas pela retina, além de alguma dor muscular nas coxas, uma pele vermelha, pés sujos de terra e sorrisos patetas e deliciosos. A cor terra combinava com Pele Branca. E sobraram também palavras, palavras, palavras, transporte de memórias indeléveis. palavras, palavras, palavras, maturadas depois de curtirem no silêncio. Despediram-se com o desconforto de mais um último silêncio, ansiosos por um aviso que esclarecesse o que havia se sucedido. O que havia se sucedido? Nenhum dos dois havia levado manual nem código nem regra. um lapso. Não estavam acostumados com encontros clandestinos, de coração afoito e olhares divididos entre o mundo e o apenas ser, e o apenas estar. A única coisa que possuíam era um precário álibi.

Sem resposta, limitaram-se a fazer ressoar pelos ares um grito (quase sussurro), em uníssono: Agora foi (e riram por dentro para não causar escândalo).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Well... vejamos... eu poderia dizer que...
Fiquem à vontade!