17 de fev. de 2010

liberdade

Parte 1: a opção liberdade
Quantas vezes eu disse: vou
Quantas vezes eu olhei para minha vida e disse de olhos arregalados convictos: voo
Quantas vezes eu joguei um balde de terra ruim nesses planos: adversidades mil elevadas ao topo ao quadrado

ir: imprescindível para não ficar
ir: o medo disso

estou falando em ir, não mencionei destino

livre, em absoluto,
eu teria de dizer as minhas costelas: você não precisa de cama
eu teria de dizer à minha língua: esqueça todo o açúcar rosado que você experimentou
eu teria de dizer aos meus planos: esqueça a casa construída com amoreiras na frente
eu teria de reavaliar as importâncias
louvar as frutas e prestar muita atenção no ar que entra e sai dos pulmões
eu teria de limpar meus canais potentes
tirar transmissores do armário
(sim, falo dessas aberturas na cabeça)

difícil, difícil, difícil - um bebê choraminga radical dentro de mim

2: a opção casa
Então eu penso em ficar
plantar
plantar
plantar
porque também é bom
e meu coração diz: isso.
Pois quem cuidaria dos pés de romã, se cada vez são mais inúteis raridades, frutas sem comércio?
quem vai continuar insistindo no semeio de um solo duro? cuidado de dia após dia?
quem vai cultivar crianças que sonhem com a liberdade?
quem?
logo, toda logarítima, ergo os ombros, derramando orgulho por decisão tão nobre:
serei mãe de crianças honestas e boa esposa de um homem ativista
por sacrifício à humanidade
em troca só peço amor - uma xícara que seja

3: múltipla escolha
não sou assim tão estúpida
e sei que as opções são falsas

sei que eu só semearia se tivesse ido por aí
capturando sementes em pleno voo

eu sei que só poderei ir
quando me desvincular das minhas costelas e da minha língua

sei que não devo fazer nada só porque tenho que aproveitar a juventude
sei do que devo fazer antes de morrer
sei da pressa que a vida tem
sei que posso voltar
sei que posso ir um pouco mais
sei que posso me paralisar mesmo em movimento
sei que me levarei junto para onde for
(há sempre um limite de bagagem mas isso não se deixa para trás)

não sei o quanto suportaria a evidência de estar sozinha
não sei da coragem
não sei se me mantenho viva caso a covardia se aprofunde ainda mais

4: agravantes
eu sou mulher
e guardo na genética e na tradição
o verbo
.............ficar
e quero
.............ir

5: lição de benjamin
que tipo de narrador eu serei quando for rememorar quem eu fui?
(sim, tenho esperanças de ter netos)

3 comentários:

  1. Imprescindível é com sc.

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  2. Valeu, anônimo. Viu como é dífícil ser livre? rsrs. Tem sempre alguém vigiando, nem que seja a gramática! :D

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  3. Chato se escreve com ch?
    É que eu não tenho "sertesa". rsrsrs

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Well... vejamos... eu poderia dizer que...
Fiquem à vontade!