27 de fev. de 2010
nem gasta título
24 de fev. de 2010
Eu. Agora... já
(mais do que eu):
Tenho 9 contas para pagar
talvez que o dinheiro não dá
não faço cálculo - é o segredo para render
sonhei com um passarinho delicado
apertei a mão da doida, tava limpinha
meu músculo dói
Eu tenho: medo, raiva e dor
é preciso escovar os dentes
Mais um gole de champanhe?
antena
no ar
no mundo
invisível
agora
e tem gente que acha que prova de amor é bicho de pelúcia
22 de fev. de 2010
20 de fev. de 2010
espere aí
eu não estou te esperando.
veja que bom:
não preciso acender cigarros nem comprar revistas, porque eu não estou te esperando.
Não me interessa que o tempo passe rápido, porque... você já sabe, eu não te espero.
E nem olho para o telefone, porque não estou te esperando.
Eu não vou embora triste porque você não chegou. Pelo contrário, vou ficar aqui mesmo.
Porque não estou te esperando.
Porque não espero você. Não espero ninguém.
Estou onde devo estar. Apenas.
Meu lugar, lugar certo.
Agora...
se você passar...
se você telefonar...
se você vier...
talvez eu nem te veja.
porque eu não estou te esperando mais.
19 de fev. de 2010
no ponto
Foram ao
Andaram, assistiram ao
Comeram
Sobraram da
18 de fev. de 2010
Memória 2
Claro que isso foi há muitos anos, hoje, além de todos os beijos e carícias de que sou capaz, toques, eu faria pandeiros com as peles de muitos homens e diria: veja que feminino. E não sei bem que porção de mim faria isso.
Mas o fato - e eu me envergonho disso - é que eu tenho muita hesitação toda vez que me vem essa pele na poesia. Essa palavra. Gostaria de não escrever mais sobre o que a pele significa para mim, porque já escrevi muito e porque minha pele já explodiu um dia (já mesmo). Mas tem uma linguagem aí, da pele, que arde, queimadura perigosa de muitos graus. E, caso um dia eu tenha um leitor assíduo, peço desculpas pela repetição, necessária por ora.
17 de fev. de 2010
liberdade
Quantas vezes eu disse: vou
Quantas vezes eu olhei para minha vida e disse de olhos arregalados convictos: voo
Quantas vezes eu joguei um balde de terra ruim nesses planos: adversidades mil elevadas ao topo ao quadrado
ir: imprescindível para não ficar
ir: o medo disso
estou falando em ir, não mencionei destino
livre, em absoluto,
eu teria de dizer as minhas costelas: você não precisa de cama
eu teria de dizer à minha língua: esqueça todo o açúcar rosado que você experimentou
eu teria de dizer aos meus planos: esqueça a casa construída com amoreiras na frente
eu teria de reavaliar as importâncias
louvar as frutas e prestar muita atenção no ar que entra e sai dos pulmões
eu teria de limpar meus canais potentes
tirar transmissores do armário
(sim, falo dessas aberturas na cabeça)
difícil, difícil, difícil - um bebê choraminga radical dentro de mim
2: a opção casa
Então eu penso em ficar
plantar
plantar
plantar
porque também é bom
e meu coração diz: isso.
Pois quem cuidaria dos pés de romã, se cada vez são mais inúteis raridades, frutas sem comércio?
quem vai continuar insistindo no semeio de um solo duro? cuidado de dia após dia?
quem vai cultivar crianças que sonhem com a liberdade?
quem?
logo, toda logarítima, ergo os ombros, derramando orgulho por decisão tão nobre:
serei mãe de crianças honestas e boa esposa de um homem ativista
por sacrifício à humanidade
em troca só peço amor - uma xícara que seja
3: múltipla escolha
não sou assim tão estúpida
e sei que as opções são falsas
sei que eu só semearia se tivesse ido por aí
capturando sementes em pleno voo
eu sei que só poderei ir
quando me desvincular das minhas costelas e da minha língua
sei que não devo fazer nada só porque tenho que aproveitar a juventude
sei do que devo fazer antes de morrer
sei da pressa que a vida tem
sei que posso voltar
sei que posso ir um pouco mais
sei que posso me paralisar mesmo em movimento
sei que me levarei junto para onde for
(há sempre um limite de bagagem mas isso não se deixa para trás)
não sei o quanto suportaria a evidência de estar sozinha
não sei da coragem
não sei se me mantenho viva caso a covardia se aprofunde ainda mais
4: agravantes
eu sou mulher
e guardo na genética e na tradição
o verbo
.............ficar
e quero
.............ir
5: lição de benjamin
que tipo de narrador eu serei quando for rememorar quem eu fui?
(sim, tenho esperanças de ter netos)
12 de fev. de 2010
convite
Não faça loucuras batendo de porta em porta.
e aceite o silêncio.
estaremos sozinhos (se conseguirmos ignorar todo o mundo do lado de fora).
anote aí, porque é tipo uma receita.
o silêncio que se instaurará
absorva todo o ar de minha presença próxima
aí eu acho que vai dar certo.
10 de fev. de 2010
9 de fev. de 2010
para abrir o apetite
"A gente é na cama do mesmo jeito que é na mesa.
Observe o traquejo dos metais, o sabor na pele fina dos lábios,
a voracidade, a velocidade, o manuseio."
Ele explicou tudo direitinho.
E era mesmo.
Resolvi ampliar as lições.
E conheci um moreno que me ensinou uns sabores
eu nem imaginava existir
fiquei hipnotizada
por aquele mundo estrangeiro,
que foi embora para sua galáxia
Aí veio aquele de tênis rechonchudo
e me levou a tantos fast-foods,
comidas de entrega...
que eu sorri para a modernidade,
seus "in-box" e rapidezas.
Foi lindo
quando o malabarista contou as moedinhas
e me pagou um suco
de beterraba com laranja
tão natural
Ficaríamos corados em breve
se não fosse tudo por um dia
Assustei demais quando aquele de nome remoto
abriu minha geladeira
e comeu todas as azeitonas
expulsei aflita
com medo do que poderia roubar
violência
Houve um,
bezerrinho desmamado,
que não gostou do meu banquete,
bandeja coberta com rendas,
e não experimentou bolo nem água-de-coco nem mel;
pediu leite -
era o que eu não tinha.
Menino luxento.
Aí teve o cozinheiro:
esse sim experiente
apaixonei
mãos ágeis
masculinidade de avental e enfeites no prato
e, sobretudo, a cebola picada à la juliette.
Depois: lágrimas.
Sua faca rápida escapuliu
e cortou meu coração.
Aprendi muito sobre indigestão e os remédios.
Tenho aprendido sobre os temperos e tudo o mais que é delicadeza.
Erro a mão constantemente.
A meu gato, eu sempre pergunto: "O que queres?",
quando ele mia - em seu momento existencial.
"É carinho, comida ou liberdade?"
Normalmente o que ele quer é que eu abra a porta.
Aí ele sai, a procurar comida sozinho.
meu gato me ensina muito sobre o amor.
adeus
Azul luminoso, leve, trasnlúcido.
Deixei que eles fossem ficando pequenininhos. azuizinhos. clarinhos.
E todos de mãos dadas foram ganhando planos mais distantes, de horizonte.
E você, meu amor, você também estava lá: sumindo, sumindo, sumindo...
5 de fev. de 2010
Quando chegares
Quando chegares ao aeroporto,
ainda não terás chegado;
quando chegares até meu abraço
- meu abraço -
ainda não terás chegado;
quando chegares a nossa casa
- a nossa casa -
ainda não terás chegado;
quando chegares até meu leito,
até meu leito - até meu leito -
ainda não terás chegado;
quando chegares até o centro,
até o centro de meu ser,
ainda não terás chegado,
ainda não terás chegado.
Mas quando fores para teu leito
- teu leito -
mas quando a sós adormeceres
- adormeceres -
e quando tudo estiver escuro
- tudo escuro -
quando eu, de pé, ao pé de teu sono,
sentir teu sono, teu sono justo -
aí então terás chegado,
terás chegado
aí, Amor, terás chegado.
(mário faustino)
4 de fev. de 2010
Memória I
eu só quis desenhar, e desenhei.
Uma antena de TV e pardais em cima.
Era o que eu via pela janela.
Eu não sabia escrever e faltavam palavras ao desenho.
Chamei meu pai e disse:
- Pai, escreve aqui: "vento forte".
E, com suas letras matemáticas, ele escreveu "vento forte". no canto do desenho.
Porque ventava.
1 de fev. de 2010
ela
tem
tem
sumiu
sim, eu tenho sangue
(e é claro que eu tenho várias)
uma faca
se eu tivesse
eu cravaria na barriga
na minha própria barriga
Não pra morrer
é claro
porque
não se morre
tão fácil
de faca
assim
na barriga
No fígado
eu cravaria
só para experimentar a dor
para dizer convicta: "Não há mais dor que eu não tenha"
para ver de perto minhas gotas
minhas próprias gotas de sangue
se são belas
se pingam
se trazem o quente e o morno
que existe lá dentro de mim
só de escrever dessa faca
minha boca treme de sangue
meu horror invade
a mim mesmo
recuso tal pensamento
com culpa
lástima
remorso
e limito minha coragem
a publicar essas linhas
horríveis de pensamento
revelando uma identidade
contrária a tudo o que eu sôo