Uma vontade muito forte de comer misto-quente, daqueles que comia com minha mãe, quando íamos peregrinar pelo centro, me veio hoje.
Lembro como andava livre naquelas épocas. Minha mãe, dizia: vamos sair. E eu ia, puxada pela mão, dobrando as mesmas esquinas de sempre, sempre desconhecidas para mim, menina, aqueles caminhos que não sabiam nada do que interessava a uma criança. Não eram para criança (era muito depois do ônibus). Era de mãe, que guia e puxa os filhos para ir ao banco ou resolver problemas que não me ocupavam – apesar de estas resoluções práticas formarem quem eu sou hoje.
Seguia simplesmente, não precisava definir itinerários e me bastava saber que, sempre, no final, haveria a promessa do misto-quente. Minha mãe nunca prometeu e não há nada mais sabido do que uma promessa que não precisa ser feita. Eu era tão pequena e sabia tudo: sair de casa com roupa de sair, esperar ônibus em pé, sentar no colo da mãe, andar muito sem atrasar o passo, misto-quente.
Eventualmente comíamos pastel com guarapan (ainda hoje admiro o sabor desta conjunção), mas o habitual eram os mistos-quentes. Na lanchonete de moças de uniforme cor-de-rosa forte com bonezinho (visualize o tom: não era rosa choque, não era rosa claro). Radiante. Lembrei o nome da lanchonete: Radiante. As moças de bonezinho.
Era no centro e tinha lanche depois que minha mãe resolvia seus problemas de adulto. Eu não escolhia o caminho, eu não escolhia o cardápio e era bom. De nada disso eu sabia. Só sabia que deveria andar com ela e reclamar nada. Depois o pão tostado, manteiga nas duas superfícies. Mesma proporção de queijo e presunto. Tostado, suculento, salgado. E sempre haveria refrigerante (mesmo se fosse para dividir com irmão).
Antes disso, alguns anos antes, eu era mais novinha. Antes de sair, sempre às pressas, eu tomava uma mamadeira de leite quente com açúcar. Eu era grande e tomava mamadeira. Quantos anos eu tinha? Que enigma era tudo isso. Eu era grande para uma mamadeira, certeza. A prova disso é que eu pulava a roleta do ônibus e já era proibido para minha idade. 6 anos? 7 anos?
Eu tomava mamadeira de leite antes de sair e sentia náusea. O doce saculejava em meu estômago. O quente.
Não é possível que eu tomava mamadeira nessa idade. Talvez fosse só leite. Estou misturando a memória. Meu irmão tomava mamadeira. Eu, só o leite, no copo mesmo. Não sei.
Mas enjoava. E segurava forte o pensamento para não passar mal, porque a viagem era longa, vinha das periferias. Eu era tão pequena. 8 anos?
Até hoje quando enjôo sinto sabor de borracha de mamadeira e leite e quente e açúcar.
Melhor mesmo foi a época do misto-quente na radiante lanchonete de moças pobres de cabelo duro e uniformes cor-de-rosa.
A gente lembra cada coisa. Hoje eu lembrei disso – que é saudade.
Lembro como andava livre naquelas épocas. Minha mãe, dizia: vamos sair. E eu ia, puxada pela mão, dobrando as mesmas esquinas de sempre, sempre desconhecidas para mim, menina, aqueles caminhos que não sabiam nada do que interessava a uma criança. Não eram para criança (era muito depois do ônibus). Era de mãe, que guia e puxa os filhos para ir ao banco ou resolver problemas que não me ocupavam – apesar de estas resoluções práticas formarem quem eu sou hoje.
Seguia simplesmente, não precisava definir itinerários e me bastava saber que, sempre, no final, haveria a promessa do misto-quente. Minha mãe nunca prometeu e não há nada mais sabido do que uma promessa que não precisa ser feita. Eu era tão pequena e sabia tudo: sair de casa com roupa de sair, esperar ônibus em pé, sentar no colo da mãe, andar muito sem atrasar o passo, misto-quente.
Eventualmente comíamos pastel com guarapan (ainda hoje admiro o sabor desta conjunção), mas o habitual eram os mistos-quentes. Na lanchonete de moças de uniforme cor-de-rosa forte com bonezinho (visualize o tom: não era rosa choque, não era rosa claro). Radiante. Lembrei o nome da lanchonete: Radiante. As moças de bonezinho.
Era no centro e tinha lanche depois que minha mãe resolvia seus problemas de adulto. Eu não escolhia o caminho, eu não escolhia o cardápio e era bom. De nada disso eu sabia. Só sabia que deveria andar com ela e reclamar nada. Depois o pão tostado, manteiga nas duas superfícies. Mesma proporção de queijo e presunto. Tostado, suculento, salgado. E sempre haveria refrigerante (mesmo se fosse para dividir com irmão).
Antes disso, alguns anos antes, eu era mais novinha. Antes de sair, sempre às pressas, eu tomava uma mamadeira de leite quente com açúcar. Eu era grande e tomava mamadeira. Quantos anos eu tinha? Que enigma era tudo isso. Eu era grande para uma mamadeira, certeza. A prova disso é que eu pulava a roleta do ônibus e já era proibido para minha idade. 6 anos? 7 anos?
Eu tomava mamadeira de leite antes de sair e sentia náusea. O doce saculejava em meu estômago. O quente.
Não é possível que eu tomava mamadeira nessa idade. Talvez fosse só leite. Estou misturando a memória. Meu irmão tomava mamadeira. Eu, só o leite, no copo mesmo. Não sei.
Mas enjoava. E segurava forte o pensamento para não passar mal, porque a viagem era longa, vinha das periferias. Eu era tão pequena. 8 anos?
Até hoje quando enjôo sinto sabor de borracha de mamadeira e leite e quente e açúcar.
Melhor mesmo foi a época do misto-quente na radiante lanchonete de moças pobres de cabelo duro e uniformes cor-de-rosa.
A gente lembra cada coisa. Hoje eu lembrei disso – que é saudade.
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