Senhorita Rita acordou com aquela sensação na boca de que ela é insuficiente para o mundo. Que não importa o que ela diga ou faça a resposta será sempre: “– Nada”. Daí que ela escreveu uma carta para seu amado em pedido de ajuda.
Querido.
Às vezes você me pergunta por que eu sou assim tão calada, como diria aquela música que ouvimos e eu digo que a resposta é simples, é porque não há o que dizer quando as coisas estão assim desconcertadas e quando o sol, o dia, a manhã, enfim, amanhecem apesar de mim. Ultimamante (ou seja nas últimas décadas) as coisas andam em mim tão secretas que nem eu mesmo reconheço o que é o mim. Um grande segredo: eu tenho cá comigo dentro um desconhecido que vibra como se a qualquer momento pudesse vir à tona e que não pode mesmo vir à tona. Sabe, não se incomode comigo. Deixe me assim como você me deixou naquela manhã, ir embora sozinha, sem delongas. Cuide da sua vida, e eu em breve saberei – o quanto antes – que não há nenhuma espécie de proteção para o que é frágil: ou seja temos que manusear as caixas na esperança de que não se quebre nada, mas é sempre possível (e provável) que se quebre. Ou você já viu alguma mudança acontecer sem que nenhum bibelô se quebrasse? Ademais, nós dois sabemos que eu não sou um bibelô. Um brinde aos cacaquinhos! (neste momento seria apropriado que promovéssemos o espatifar das taças de cristal).
Besos.
Querido.
Às vezes você me pergunta por que eu sou assim tão calada, como diria aquela música que ouvimos e eu digo que a resposta é simples, é porque não há o que dizer quando as coisas estão assim desconcertadas e quando o sol, o dia, a manhã, enfim, amanhecem apesar de mim. Ultimamante (ou seja nas últimas décadas) as coisas andam em mim tão secretas que nem eu mesmo reconheço o que é o mim. Um grande segredo: eu tenho cá comigo dentro um desconhecido que vibra como se a qualquer momento pudesse vir à tona e que não pode mesmo vir à tona. Sabe, não se incomode comigo. Deixe me assim como você me deixou naquela manhã, ir embora sozinha, sem delongas. Cuide da sua vida, e eu em breve saberei – o quanto antes – que não há nenhuma espécie de proteção para o que é frágil: ou seja temos que manusear as caixas na esperança de que não se quebre nada, mas é sempre possível (e provável) que se quebre. Ou você já viu alguma mudança acontecer sem que nenhum bibelô se quebrasse? Ademais, nós dois sabemos que eu não sou um bibelô. Um brinde aos cacaquinhos! (neste momento seria apropriado que promovéssemos o espatifar das taças de cristal).
Besos.
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PS: assim como os beijos mais ofegantes de Rita, esta carta tem uma infinidade de destinatários.
Senhorita Rita, abrindo caixas, cortou-se na borda de si. Fez um vermelho bonito no seu dedo. Digitou palavras vermelhas. Muitos que leram, calaram. Eu, que também libertei mudanças de pesadas caixas, gostei tanto do caco que o coloquei na estante, decorando. Agora sei seu endereço de cor.
ResponderExcluirQue bom ouvir sua voz. Até me sentei um pouco, descansando, em meio às caixas e à mudança. Mas não há muito tempo para isso, voltemos, pois, ao movimento contínuo do sangue, esse pulso.
ResponderExcluirtim tim!...
ResponderExcluirbesitos