25 de mar. de 2013

mama

Senhorita Rita, que é negra, acordou em um ônibus de viagem cujo destino ela não sabia bem ao certo e se deparou com duas crianças loiras que eram suas filhas.
- Mas como? foi o que pôde balbuciar.
E também, um pouco depois:
- Não me lembro de ter parido.
Ela, apesar de acreditar não ter passado pela experiência, sabia que haveria dores, haveria alguma mudança em meu corpo, alguma cicatriz.
Tudo bem, ela já estava acostumando-se com a vida em toda sua falta de sentido. E tratou logo de ir procurando alguma marca em seu corpo que revelassem maternidade.
Achou muitas das quais ela não se lembrava, realmente rita era uma pessoa já bem marcada, e de pouca idade, o que impressionaria alguém que gostasse de se impressionar por esse tipo de coisa.
Enfim. Foi procurando e achou marcas bem remotas. A maioria era mesmo de amor. Vasos que ele quebrou em seu peito durante uma separação (os caquinhos ainda estavam incrustados lá), facas enfiadas nos olhos deixaram um líquido escorrendo, taça de vinho que derramou muitifacetada em sua cabeça, dentre várias asperezas por todo o corpo.
Vez por outra, Senhorita rita falava para si, baixinho (ela estava no ônibus, como foi dito):
- Dessa eu não lembrava mesmo.
E foi assim que concluiu que alguma delas podia mesmo ser um sinal de que já era mãe. E aceitou.
As crianças, duas meninas que eram bem pequenas, ficaram quietas por todo esse tempo, olhando pela janela a viagem.
- São crianças boazinhas. Que sorte.
E senhorita rita as beijou para que elas ficassem amadas.
E assim foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Well... vejamos... eu poderia dizer que...
Fiquem à vontade!