26 de mar. de 2013

amor em outra língua

Pensando em proximidades, eis que senhorita Rita arranjou um namorado para conversas a distância. O namorado de Rita, que tem nome quase impronunciável, mora em outro planeta, de nome impronunciável.
Isso não é de forma alguma um problema, como poderiam pensar alguns, afinal as palavras do amado chegam mesmo aos ouvidos de Rita, fazendo inclusive cosquinhas naqueles pelinhos delicados que ficam nas abas das orelhas - o que é muito erótico.
O mais surpreendente é que os dois falam a mesma língua e se entendem bem. O caráter alienígena do namorado de Rita faz dela mais humana a cada dia.
Apesar de tudo dar bem certo assim, com cada um no seu mundinho, surgiu há um tempo atrás uma enorme vontade de se encontrarem para experimentar um beijo e um aperto de mão, além, é claro, de algo a mais. Fizeram contas complexas e decidiram se encontrar bem no meio do caminho, entre os dois planetas. O lugar exato deu na lua. E para lá foram. foi ótimo, viram são Jorge, dormiram em crateras e fizeram amor naquela geografia. Mas Rita estava entediada e dizia: sinto falta da terra, pés no chão. E o amado disse: olha o chão aí, sô, quer lugar com mais chão que a lua? Aqui é só chão!
Senhorita Rita levou um susto e viu que era mesmo, a lua só tinha chão. Pensou nesse momento em expressões como "viver no mundo da lua" e ficou confusa, mas se saiu bem, dizendo:
- Não, eu me enganei sinto falta é de água. Preciso molhar o corpo e é urgente.
Construíram a jato um foguete, desejando ir para as Felipinas, mas houve um erro de cálculo e foram parar na Islândia.
- Aqui não serve. Tem água, mas é muito dura. 
Fizeram novos cálculos e chegaram em Alto Paraíso, em Goiás, o lugar era lindo e o namorado amou.
Rita ficou muito satisfeita e prometeu uma viagem de retribuição. Sim ela seria sua hóspede. 
Essa viagem seria bem mais difícil por causa do oxigênio, os equipamanteos necessários são caros e raros. Algumas pecinhas ainda nem foram inventadas. Mas Rita irá, em breve. Anda inclusive estudando saudações alienígenas para conversar com o povo de lá.
O casal está muito apaixonado. Recentemente tiveram um grave problema de relacionamento, pois Rita teve um de seus famosos ataques de ciúmes ao saber de uma et que estava dando em cima do amado. Mas torço para contornarem a situação e serem bem felizes, pelo menos para sempre.

25 de mar. de 2013

mama

Senhorita Rita, que é negra, acordou em um ônibus de viagem cujo destino ela não sabia bem ao certo e se deparou com duas crianças loiras que eram suas filhas.
- Mas como? foi o que pôde balbuciar.
E também, um pouco depois:
- Não me lembro de ter parido.
Ela, apesar de acreditar não ter passado pela experiência, sabia que haveria dores, haveria alguma mudança em meu corpo, alguma cicatriz.
Tudo bem, ela já estava acostumando-se com a vida em toda sua falta de sentido. E tratou logo de ir procurando alguma marca em seu corpo que revelassem maternidade.
Achou muitas das quais ela não se lembrava, realmente rita era uma pessoa já bem marcada, e de pouca idade, o que impressionaria alguém que gostasse de se impressionar por esse tipo de coisa.
Enfim. Foi procurando e achou marcas bem remotas. A maioria era mesmo de amor. Vasos que ele quebrou em seu peito durante uma separação (os caquinhos ainda estavam incrustados lá), facas enfiadas nos olhos deixaram um líquido escorrendo, taça de vinho que derramou muitifacetada em sua cabeça, dentre várias asperezas por todo o corpo.
Vez por outra, Senhorita rita falava para si, baixinho (ela estava no ônibus, como foi dito):
- Dessa eu não lembrava mesmo.
E foi assim que concluiu que alguma delas podia mesmo ser um sinal de que já era mãe. E aceitou.
As crianças, duas meninas que eram bem pequenas, ficaram quietas por todo esse tempo, olhando pela janela a viagem.
- São crianças boazinhas. Que sorte.
E senhorita rita as beijou para que elas ficassem amadas.
E assim foi.