23 de set. de 2010

incomunicável 2

não há absolutamente nada que eu possa dizer
porque tudo já foi dito.
isto inclusive já foi dito:
qual poeta nunca disse que estava sem palavras?
quem nunca parou, brusco ou delicado, diante da parede do incomunicável?
Ah, minha amiga Amana, pudéssemos nós duas com dedos mágicos apontar: é isso, é isso, é isso,
que eu estou dizendo sentindo fazendo.

inútil, porque todas as palavras já foram ditas e até hoje ninguém entendeu.
todas as cores já foram reconhecidas pela limitada retina humana
e continuaram insuficientes.
e veja: todos os sons, até mesmo murmúrios, até mesmo grunhidos, que já passaram pela glote
e, hoje em dia, o som tão articulado...

quanta técnica vocal já se gastou
quanto fonoaudiólogo
quantos mestres da expressão corporal

e haja papel, e haja película de cinema e tantas fotografias...
e o tato: da mão na pele do rosto, do rosto na pele das coisas, das coisas sentindo o ar.
e sim, já inventaram a telepatia! Está nos livros.

E a humanidade:

o fracasso.
vejam pois aquela foto em que certo presidente oferece a mão para um aperto cordial e o outro declara a guerra.

inútil
insuficiente
incomunicável

eis o fracasso comprovado
há já milênios de humanidade

ainda nos resta uma chance?
nem todos os silêncios foram ainda instaurados.

Um comentário:

  1. .mas se pudéssemos apontar com o dedo, apontaríamos para quem ver? com que olhos? para fazer o que? com que mãos? se abaixo do que de menor podemos conceber com as nossas mentes, nada existe e acima do do que de maior podemos conceber com nossas mentes, nada existe e se o infinito é para os dois lados, em que valor de existência estão as nossas vaidosas e unicamente vaidosas palavras? mesmo que as soubéssemos todas, em todas as línguas, em todos os tempo, do primeiro grunhido ao último lamento, o que diríamos de relevante? e se soubéssemos exatamente o que dizer, dar os nomes perfeitos e universalmente inteligíveis... e daí? o mundo continua firme, a padecer "da mudez mais impronunciável". para mim, não nos resta chance nenhuma além desta, que é eterna e circular.

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Well... vejamos... eu poderia dizer que...
Fiquem à vontade!