31 de jan. de 2010

sonho cilada

Foi engraçado: mais um beijo e mais uma suspensão do tempo. Nos beijamos e o tempo parou, mas nada a ver com a idéia de afastamento da realidade que parecem sentir os românticos, era mais como uma falta de tato, uma estagnação, um incômodo. O fato é que o beijo selava um compromisso (mais uma referência medieval nos envolvendo!). Depois sentamos numa mesa de bar, com amigos. Os amigos marcavam mais um compromisso, eram testemuhas de que estávamos juntos por livre e espontânea vontade. Ficar ali no bar, com amigos, desempenhando uma função social tão antiga: mostrar-se em casal... me surpreendeu: "então você sabe namorar!".
Levantei-me para ir ao banheiro ou qualquer coisa banal do tipo, e na volta recebi um bilhete do garçom, sem remetente. Você fez uma carinha de quem tinha ciúme, de brincadeira, quanto tempo eu demoraria para te descobrir remetente?

O bilhete: verso de um panfleto, boa gramatura, como a de um cartão postal, cor marrom claro, uma ranhura na diagonal devido a uma dobradura descuidada (o papel devia movimentar-se há alguns dias em uma bolsa ou bolso, daí a marca). Papel usado de improviso para a escrita.

As palavras, de lindas, não consegui memorizar. era algo como:

sei pouco de você mas dou importância ao que sei
sei que você tem medo
sei que você gosta de verde
as pessoas falam de sua delicadeza
você deve me dar um beijo
vamos saber mais coisas depois

achei lindo e sorri muito. Então você sabia mesmo namorar. Te beijei e não falei quase nada, apenas: "Um admirador secreto, então". Nessa altura do campeonato, percebi que podia pegar na sua mão o quanto quisesse e com naturalidade. Podia te dar beijinhos (como o que acabara de dar), nossos corpos não possuíam mais aquela trava anterior, não estávamos mais presos aos episódios e constrangimentos de nosso passado (desencontros e máscaras). Era incrível, você sabia mesmo namorar, normalmente. Não paralisávamos mais o tempo, você havia cedido e eu simplesmente embarquei. Eu me sentia segura e feliz porque recebia de você as impressões: "Eu gosto de você na medida" e "Eu te escolhi para mim" e "Sei da reciprocidade".
O curioso é que, ao acordar, senti de imediato: "Não." e "Não quero mais, não para esta cilada". O sonho me exigia uma resposta, como se de dentro viesse a questão: "Posicione-se." E eu: "Não acredito. Quem quer me enganar? A resposta é: F, de falso, porque foi fácil demais."
Foi estranho mesmo.

2 comentários:

  1. Eu conheço uma história que começou com bilhete de admirador para beltrana e muitas orquídeas, de todos os tipos.

    Felizmente a resposta não foi F de falso. Mas também não sei qual foi a resposta, pois a questão foi anulada, não havia respostas certas nas opções.

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  2. Vejo que Dom Quixote continua movendo moinhos e soltando ladrões. Que bom! muito melhor (mas muito melhor!) que as linhas retas. Será obra de Iemanjá, tal movimento?

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Well... vejamos... eu poderia dizer que...
Fiquem à vontade!