Didática do toque
Toco o envelope com mãos que poderiam tocar seu ventre.
Toco meus lábios num automatismo atônito, ausência de beijo.
Abro seu texto com mãos que poderiam abrir um fecho eclaire.
Abro-me como um livro. Psss... Escute a dobradiça. Abro-me como uma coisa antiga: caixinha amarelada, guardada em outra caixa amarelada, de onde transbordam coisas lindas e inúteis. Abro-te meu peito para veres as gotinhas de sangue. Espero primeiro que abras o fecho do sutiã.
A 5 mm de sua pele, antes de pêlos, roço minha face rosada de pudor. Você não me vê. E eu não chego perto, porque já estou perto demais. Quantos metros preciso recuar para que veja? De que ângulo precisa?
Sob um foco de luz, fica muito branco. Está ao alcance das mãos. Já não há vestes.
Olho bem e parece que já não há corpo. A luz cega de clara. Mantenho-me inerte por dois séculos e um segundo. Permaneço minha coxa próxima a ti, imóvel. Evito respirar.
E adentro, com mãos graves, masculinas, seu peito nu. Tiro, de lá, nenhum coração, mas o vejo pulsante.
Cruel e feminina, penso nos tambores e rituais que poderia fazer com sua pele.
Penso em pêlos.
Peço pelo menos um toque em seu tecido: sempre algodão, sempre epitelial.
Começo dedilhando suave sobre a toalha da mesa e termino encorpando fortes dedos em seus cabelos, enchendo a mão de água límpida, envolvendo tudo com meus grandes braços repletos de ombros e sonhos. Abóbada, concha, casulo.
Tenho um poço em mim cujo acesso não há. Contento-me com a gota, experimento a lágrima. Veja: o fiozinho... Tudo eu tenho e dou. A lágrima, a gota, o fiozinho... mas há o que não vaza.
Pele, pele, pele, pele, eu quero sua alma! (como quem pede ávido um prato de carne, como quem suga a saliva excedente na própria boca).
É-me difícil esfriar, estando perto de sua temperatura.
Toco o envelope com mãos que poderiam tocar seu ventre.
Toco meus lábios num automatismo atônito, ausência de beijo.
Abro seu texto com mãos que poderiam abrir um fecho eclaire.
Abro-me como um livro. Psss... Escute a dobradiça. Abro-me como uma coisa antiga: caixinha amarelada, guardada em outra caixa amarelada, de onde transbordam coisas lindas e inúteis. Abro-te meu peito para veres as gotinhas de sangue. Espero primeiro que abras o fecho do sutiã.
A 5 mm de sua pele, antes de pêlos, roço minha face rosada de pudor. Você não me vê. E eu não chego perto, porque já estou perto demais. Quantos metros preciso recuar para que veja? De que ângulo precisa?
Sob um foco de luz, fica muito branco. Está ao alcance das mãos. Já não há vestes.
Olho bem e parece que já não há corpo. A luz cega de clara. Mantenho-me inerte por dois séculos e um segundo. Permaneço minha coxa próxima a ti, imóvel. Evito respirar.
E adentro, com mãos graves, masculinas, seu peito nu. Tiro, de lá, nenhum coração, mas o vejo pulsante.
Cruel e feminina, penso nos tambores e rituais que poderia fazer com sua pele.
Penso em pêlos.
Peço pelo menos um toque em seu tecido: sempre algodão, sempre epitelial.
Começo dedilhando suave sobre a toalha da mesa e termino encorpando fortes dedos em seus cabelos, enchendo a mão de água límpida, envolvendo tudo com meus grandes braços repletos de ombros e sonhos. Abóbada, concha, casulo.
Tenho um poço em mim cujo acesso não há. Contento-me com a gota, experimento a lágrima. Veja: o fiozinho... Tudo eu tenho e dou. A lágrima, a gota, o fiozinho... mas há o que não vaza.
Pele, pele, pele, pele, eu quero sua alma! (como quem pede ávido um prato de carne, como quem suga a saliva excedente na própria boca).
É-me difícil esfriar, estando perto de sua temperatura.
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Well... vejamos... eu poderia dizer que...
Fiquem à vontade!