28 de abr. de 2009

o pulso ainda pulsa

Maximiliano.
É verdade que não posso esconder sua identidade nesse maximiliano. E olha que tentei alcançar o mínimo. É-me difícil achar entrelinhas, pelo menos assim, no meio de seu público. Logo eu que gosto tanto de sutilezas... Peço desculpas pelo que for grosseiro demais, mas sei que achará tudo uma delicadeza só.
De você, só conheço a superfície, pois você já se acostumou à pele dos papéis fotográficos.
Te conheci no cinema, numa quinta já sexta, madrugada em que não havia mais filmes, e logo obtive de ti um olhar, muitos olhares, enquanto te via no meio de vozes - mais sussuros - de elogios. Você se apresentou a mim, e eu continuei sem conhecê-lo. Esbarrei meu corpo no seu, porque havia multidão e porque eu usava meias vermelhas, o que me garantia uma certa ousadia, embora emprestada.
Você pegou na minha mão, eu retive a sua, e foi tudo muito efêmero. Aí acabou meu estoque de ousadia (tenho gastado-a muito por aí, um desperdício).
Desde então eu desejei muito que o efêmero durasse ao menos dois dias, mas efêmero que se preze ignora os bilhões de anos de vida das estrelas.
Penso profundo no meu punho ali... os pulos de minha dança... as pulseiras... as pinturas... seu punho... nossos pulsos... por quantos segundos bate um coração em uma noite? É tudo mesmo muito volátil.
O seu toque... haveria outras texturas? Quais são as profundidades possíveis?
Bão... encurtando a prosa...
Ofereço uma brevidade - tradicional quitude mineiro. É isso.
E peço às montanhas do meu horizonte que não barrem a minha correspondência contigo, que pertence a outros mares, recifes, corais.
Um beijo, tão pulsante quanto você suportar.

9 de abr. de 2009

Amantes invisíveis - Carta INÉDITA

Transcrevo abaixo mais uma carta da senhorita rita. Ela acabou de escrever e pediu que eu a colocasse aqui. Ela não entende de computadores (a verdade é que a informática não combina com suas unhas de esmalte fresquíssimo, sabor melancia).
Rodrigo, digo, Diguinho.
Sinto tanta falta de seu rosto anguloso... É impressionante como você fica bonito no ângulo do beijo - confesso, eu abri os olhos. E depois tive que abrir de novo, para reparar bem sua pele, o vermelho dos lábios e os cílios, tudo bem de perto. Tão bom.
Enquanto isso, a sua mão...
Ai, que eu estremeço. Sua mão. Sua mão é... bonita demais. E é limpa, dá até gosto.
A sua mão tocou os meus ombros com a força suave de um homem que gosta de pele. Ai que mão bonita, meu Deus. Eu poderia ficar olhando para ela por três horas e depois combiná-la, mais uma vez, com a maçã de meu rosto, em perfeito encaixe.
Tão bom. Eu queria isso.
Sei tão pouco de ti, não é mesmo? Só posso dizer que elas, as mãos, desenharam sobre a superfície de minha pele algo muito agradável (tanto que eu te mandei um arrepio, em agradecimento, lembra?). E foi só.
Viu como eu sei me comportar? Nem te convidei para uma xícara de café...
Bem... Vamos ao que interessa.
Esse prêambulo é para dizer que você tem belezas, mas o que eu queria mesmo era acabar com a sua raça. Sim. Você ouviu direito.
E aqui começa a verdadeira carta.
Eu sei que você está enganando aquela moça, e isso eu não posso suportar. Um homem com suas mãos não devia fazer algo assim... é sujeira. Deixe esse tipo de atitude para os das mãos sebentas. Você não.
Naquela tarde tropical, quando te vi com Ana, pude palpar o tanto que ela gosta de você. E, mesmo assim, você andava me beijando pelas vésperas... Você não tem vergonha? As mulheres têm muito medo de assustar os homens com suas poeticidades e se calam, depois sofrem, também caladas, quando escutam "Ó, você confundiu as coisas". Pois eu te digo: não há confusão nenhuma... Ou não há beijos, carinhos, gentilezas, intimidade crescente?
Resolva isso, por favor. Só assim eu poderei voltar a te amar: namore a Ana e mostre que você tem decência. Poderemos nos casar quando este seu relacionamento acabar, enquanto isso vou me divertindo por aí. Sou paciente.
Confio em sua nobreza de caráter. Minha intuição não pode estar errada.
E boa sorte, meu amor!!!

7 de abr. de 2009

Entre mim e você: a pele

Didática do toque

Toco o envelope com mãos que poderiam tocar seu ventre.
Toco meus lábios num automatismo atônito, ausência de beijo.
Abro seu texto com mãos que poderiam abrir um fecho eclaire.
Abro-me como um livro. Psss... Escute a dobradiça. Abro-me como uma coisa antiga: caixinha amarelada, guardada em outra caixa amarelada, de onde transbordam coisas lindas e inúteis. Abro-te meu peito para veres as gotinhas de sangue. Espero primeiro que abras o fecho do sutiã.
A 5 mm de sua pele, antes de pêlos, roço minha face rosada de pudor. Você não me vê. E eu não chego perto, porque já estou perto demais. Quantos metros preciso recuar para que veja? De que ângulo precisa?
Sob um foco de luz, fica muito branco. Está ao alcance das mãos. Já não há vestes.
Olho bem e parece que já não há corpo. A luz cega de clara. Mantenho-me inerte por dois séculos e um segundo. Permaneço minha coxa próxima a ti, imóvel. Evito respirar.
E adentro, com mãos graves, masculinas, seu peito nu. Tiro, de lá, nenhum coração, mas o vejo pulsante.
Cruel e feminina, penso nos tambores e rituais que poderia fazer com sua pele.
Penso em pêlos.
Peço pelo menos um toque em seu tecido: sempre algodão, sempre epitelial.
Começo dedilhando suave sobre a toalha da mesa e termino encorpando fortes dedos em seus cabelos, enchendo a mão de água límpida, envolvendo tudo com meus grandes braços repletos de ombros e sonhos. Abóbada, concha, casulo.
Tenho um poço em mim cujo acesso não há. Contento-me com a gota, experimento a lágrima. Veja: o fiozinho... Tudo eu tenho e dou. A lágrima, a gota, o fiozinho... mas há o que não vaza.
Pele, pele, pele, pele, eu quero sua alma! (como quem pede ávido um prato de carne, como quem suga a saliva excedente na própria boca).
É-me difícil esfriar, estando perto de sua temperatura.