30 de dez. de 2010

eu vi a casa que sou eu

ohlálaáhey!
eu hoje sou como uma casa vazia, nova, linda, pronta para receber os móveis, os quadros na parede e ser habitada por mim mesma mais a legião que me acompanha e me habita o coração. Todos nós, livres e prontos, para ocupar a casa linda, e dar um jeitinho nos restos de cimento e de argamassa deixados, vestígios da construção perene, tirar delicadamente os pinguinhos de tinta fresca. Tudo novo, reluzente: a beleza!

27 de dez. de 2010

o gato

eu sou um gato, mas eu posso virar um cachorro
eu sou um cachorro, mas posso virar um gato
eu sou um gato, mas posso virar um leão
eu sou um gato, mas posso virar uma onça
eu sou um gato, mas posso virar um hipopótamo
eu sou um gato, mas posso virar uma girafa

ele só não pode voar

(música inventada por Luiz, meu amigo, de 5 anos)

20 de dez. de 2010

Separação

sentimento
sentimento
sentimento
sem ti
sem ti
sem ti

19 de dez. de 2010

na direção

De repente, todos os meus retrovisores se quebraram, em mil cacos. Por sorte não me furaram os olhos, porque deles eu ia mesmo precisar – como se verá a seguir. Mas entendi que eu não devia mesmo olhar para o passado.
Seguir em frente.
Estava tensa, insegura, e fazia um barulho horrível com meus pés sobre o acelerador.
– Devo ficar, devo ir? Entro? Saio? Até onde devo ir?
E acelerava horrivelmente sem sair do lugar, o medo da colisão.
– Que encontro é este, meu Deus?
1º encontro. 2º encontro, último encontro: não somos compatíveis com a eternidade, a não ser que se morra.
– Não esbarre nas pilastras, no meio fio, nas pessoas.
Não esbarrarei.
– Eu esbarrei em você, querido?
– Tudo é máquina.
– Tudo é máquina – repeti.
– Máquina estraga.
– Meu organismo, minha cabeça, meu coração.
– Não esbarre nas pilastras.
– Sim, os pilares. O que está em cima também pode desabar.
Colisão, desabamento, nada disso acontecerá. (Psiu, é segredo: à
s vezes me parece que é necessário colidir, desabar para ver o que sobrevive, sabe?)
Seguir em frente.
– Ok, positivo e operante.
– As coisas boas estão aí, é só pegá-las.
Abri um estojo de maquiagem e procurei por pequeno espelho que substituísse os retrovisores quebrados: olhar o presente, olhar para o futuro. Cuidado! Cuidados! Atenção! Não pare na pista!
Ao olhar para mim mesma, olhos nos olhos, vi todo o passado e sua glória de sol em dia de chuva, e seus buracos, buracos, buracos.
– Mas você está então acertando todos os buracos. A gente desvia dos buracos, você não sabe?
Acho que de verdade eu não sabia.
Agora eu sei.
Segui, andando a pé, sem carro, sem acelerador – com minhas pernas grandes que correm léguas.
Texto escrito a partir do gênero intitulado por mim mesma como: fato onírico em esfera ficcional (rs)
Obs: a informação entre parênteses faz parte do nome do gênero.

conto de fadas

Desci da torre. E, para descer, ao invés de cabelo usei uma corda de pedreiro, suja de cimento. Fui ver um príncipe e pensei comigo mesmo:
- Uai, eu desci da torre sem o príncipe me chamar!
Senti-me mal por antecipar o enredo, e resolvi voltar então. O príncipe dormia à la bela adormecida, mas acordou quando eu movimentei o ar de sua mansão. E me propôs sexo.
Mas eu pisava pé ante pé e não queria acordá-lo. Sentia vontade de voltar para a torre. Hesitei entre seus lençóis, desconversei, subi.
Mas subir é muito mais difícil, princesa.